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sexta-feira, 27 de julho de 2012

Levando a sua avó a Nova York

(ou, um Guia de Acessibilidade)

Antes de tudo, vou deixar bem claro que agora ninguém tem motivo pra não comentar, porque o Demian me  ensinou a colocar comentário de Facebook no Blogger! Os comentários anteriores continuam aqui guardados no meu blog, mas infelizmente o código não deixa eu ter os dois ao mesmo tempo. Mas estão aqui guardados com carinho!

E por falar nisso, vamos brincar de jogo dos 7 erros! Ok, 4 na verdade.
A primeira pessoa que comentar as 4 coisas que mudei no meu blog desde a última postagem (além dos comentários via FB) vai ganhar algum brindezinho de NY! Não posso prometer o que será porque acabei de inventar isso e ainda vou pensar em algo legal, prometo! XD
(você não pode participar, Dê. xD)



Bom, vamos falar sobre acessibilidade. Nós, designers e arquitetos temos sempre (?) - ou deveríamos ter - uma preocupação em atender pessoas das mais diversas características. Muito alto, muito gordo, muito fraco, muito míope etc. E, passar essa semana com a vovó foi um verdadeiro workshop de como se virar em condições diferentes em NYC.

A minha vovó linda tem um problema no joelho - ela anda, mas fica cansativo andar demais. E a primeira grande coisa é que em NY se anda MUITO a pé. Tipo, muito. E foi bem diferente ter que pensar em outros meios de perambular por aí. Tem que sempre planejar tudo antes em vez de ir até "aonde as minhas pernas me levarem".

Bom, alugamos uma cadeira de rodas no Big Apple Mobility. O pessoal é super atencioso, o preço é bom e eles entregam no hotel. Eu fui lá uma semana antes pra conversar - a gente a princípio tava pensando em alugar uma scooter, porque não precisava ninguém pra empurrar. Mas, ele me passou informações que nos fizeram mudar de idéia:

Scooter:
É mais confortável porque não precisa de ninguém empurrando;
É mais trambolho pra entrar em táxi - pra desmontar, precisa de chave de fenda e tudo...
Precisa recarregar bateria depois de determinado tempo - imagina ficar sem bateria no meio do museu, por exemplo?
Precisa que a pessoa tenha confiança e reflexos para dirigir.

Cadeira de rodas:
Precisa de alguém empurrando o tempo todo...
É mais leve e fácil de desmontar, dobrar pra entrar em táxi.
É offline!

Acabamos obviamente, resolvendo pela cadeira, o que foi ótimo, porque se a vovó já ficou meio tensa andando na cadeira sem precisar se preocupar, imagina dirigindo uma scooter por aí! A questão de empurrar a cadeira só ficou pesada quando nos perdemos em trilhas estreitas e íngremes (pra cadeira) no Central Park. Foi difícil! Meu braço saiu doendo! XD Mas de modo geral, principalmente em ambientes fechados com piso liso, é super tranquilo!

A outra coisa era achar a alternativa ao metrô. Obviamente, o ônibus! Compramos o MetroCard semanal (que também serve pra ônibus), e ensinei elas a pegar ônibus e imprimi um mapa das linhas. Os ônibus daqui são excelentes! Todos descem e esticam uma rampa em direção à calçada, e os motoristas vão na maior boa vontade, levam a pessoa e prendem os cintos de segurança! Um conforto e praticidade muito maior do que o metrô!

O metrô daqui é assim: tem um zilhão de escadas, passagens estreitas e nas poucas estações que têm elevador, muitas vezes ele não funciona. E no mapa parece ser mole fazer transferência de linha, mas às vezes você anda quilômetros debaixo da terra!! E tá bem mais agradável agora ficar fora do metrô, que no verão fica super quente. Bom, mas no final acho que nem compensou comprar o cartão semanal, porque acabamos pegando muito táxi (como éramos 4 pessoas rachando o táxi fica relativamente barato também né!). Se pudesse voltar no tempo, não tinha aconselhado a comprar cartão semanal do metrô pra todo mundo, e sim comprar um só recarregável pra poucas viagens.

Andar na rua com a cadeira é tranquilo, mas obviamente não é pra esperar que todo mundo vá dar licença na Times Square num sábado à noite, aquele caos...

Em compensação, o tratamento que recebemos no Lincoln Center foi ótimo! Fomos ver um ballet, e os ingressos de cadeirante era $150. HAHA SENTA LÁ. Liguei pro teatro e perguntei se tinha elevador, disseram que tinha. Então compramos o ingresso de $25 no 4th ring. Chegando lá, vimos que não era bem assim - tinha uma escada grandona pra subir, com degraus altíssimos, pra chegar na nossa fileira. Ia ser impossível. Falamos com as pessoas que ficam orientando pros assentos e mandaram a gente ir pro Box Office resolver. Mesmo que tivéssemos que pagar a diferença, ia ser o jeito.

Desci no elevador com a minha prima até o primeiro andar, e avisamos ao tiozinho do elevador que estávamos com o ticket rasgado porque já tínhamos entrado mas precisávamos resolver isso. Ele nos levou até a gerente do teatro, uma senhora super fofa! Ela na mesma hora ligou pra pessoa que cuidava dos assentos e arrumou um assento pra vovó no 1st ring! A pouquíssimos metros do palco!

Levamos ela lá, e voltamos lá pra cima. No intervalo, descemos de novo pra falar com ela, e a moça que tomava conta falou: "ah, sobrou esse lugar do lado dela, se alguma de vocês quiser ficar aqui acompanhando ela, fiquem à vontade!". Deixamos a tia Leti lá com a vovó (ela mereceee!!! <3) e voltamos lá pra cima. Eu, super feliz com o tratamento digno que deram pra vovó!

A semana toda teve várias situações desse tipo, que a gente não para pra pensar no dia-a-dia da gente, pessoas aceleradas e, graças a Deus, com boas condições físicas. Foi uma verdadeira aula!

Checklist pra trazer a vovó pra NY:
- providenciar cadeira de rodas ou scooter
- malhar braço antes de trazê-la!
- tenha certeza que está reservando um quarto de hotel acessível
- nem pense em usar metrô!!! Aprenda a usar o ônibus. Ou use táxi em casos que tenha que pegar 2 ônibus ou mais.
- se possível, venha com a vovó e mais alguém, pra ajudar a abrir portas e desencalhar a cadeira quando tem degrau (e pra revezar né!)
- se não der, não tenha vergonha de pedir ajuda pros outros. As pessoas são muito prestativas pra abrir portas etc.

Isso tudo me fez pensar muito sobre a situação do idoso e do deficiente nas cidades. Nova York é muito bem preparada, tem rampas em todas as calçadas, ônibus preparados e principalmente equipes preparadas.  Uma vez peguei um ônibus no Rio e um cadeirante tentou subir, o meu ônibus foi o que parou mas o motorista não conseguia fazer a rampa funcionar. Falta manutenção e treinamento.

A vovó me falou uma coisa que eu nunca tinha parado pra pensar: a medicina avançou e agora as pessoas vivem mais, mas a partir dos 70 quando certas dificuldades começam a aparecer, a pessoa não vive mais tão dignamente por causa de todo o perrengue que as coisas cotidianas vão se tornando. Ainda bem que aqui em NY isso tudo é visto como uma coisa natural. As pessoas ajudarem na rua, os motoristas ajudarem a entrar no ônibus, a pessoa poder exigir recursos pra sua situação - nada disso deve ser encarado como um favor e sim como um sinal de respeito!

Chega por hoje, e FELIZ DIA DOS AVÓS, pro meu vovô Renato, pra avó emprestada Anna, pro meu vovô Silas e vovó Zulmira que estão no céu, e, claro, pra vovó Monica, que fez minha semana tão feliz e que eu adorei carregar por aí, ouvindo as coisas mais engraçadas do universo! :)

Beijos!

LINDONA!!