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quinta-feira, 19 de abril de 2012

Sobre as culturas

Quando eu passei pro intercâmbio, fiquei me perguntando o tempo todo meio apreensiva se não ia me sentir deslocada por ser estrangeira. Sabe, como os estrangeiros lá na Esdi ficam. São muito bem-vindos e todo mundo trata bem, mas são vistos como "os gringos".

Bom, acabou que isso tudo foi muito diferente. Nova York é uma misturada de culturas - parece que aqui, a primeira língua de quase ninguém é inglês. Acho que já falei sobre isso antes aqui, mas às vezes você entra numa loja/supermercado/lanchonete e o cara te atende... E daí ele vira pro lado e começa a falar espanhol com o colega. Ou chinês. Ou coreano!

A New School (universidade na qual a Parsons se insere) é a faculdade que mais recebe estudantes estrangeiros em todos os Estados Unidos. Isso foi dito em uma das várias atividades de recepção aos alunos estrangeiros. Aqui tem um link com vários dados sobre a New School. No entanto, a maioria dos chamados "estudantes internacionais" são pessoas que vieram de outros países pra estudar o curso inteiro, ou seja, sair com diploma da New School, e não um intercâmbio "temporário".



Por isso, é meio difícil pra eles entenderem que eu só vou ficar aqui 1 ano. E que o ano letivo no Brasil começa em março e termina em dezembro, e por isso eu pego metade de cada ano letivo daqui. E que eu já estudei 4 anos no Brasil. Sempre me perguntam se eu sou sophomore (2o ano), junior (3o) ou o quê (principalmente nessa época de se inscrever em disciplinas, quando tá todo mundo conversando sobre que matérias pegar). Uma vez eu tava conversando com alguém que entendeu minha situação e falou: "Caraca, então você é tipo post-senior!" Adotei o termo e toda hora que alguém não tá entendendo a minha historinha eu falo "4/5 anos no meu double major em Gráfico e Produto na Esdi + 1 ano na Parsons como "post-senior" + último ano na Esdi"... Hahaha!

Bom... Voltando ao assunto, eu sinto que tenho menos dificuldade do que alguns alunos internacionais que já estão há mais tempo, em termos de idioma. Uma coisa que pega muito é a pronúncia... Mas os professores obviamente são preparados pra lidar com isso (já vi uns papéis lá divulgando curso pros professores exatamente a respeito de como lidar com alunos internacionais). Então, não importa muito se eu tenho sotaque ou não, se eu me embolo com as palavras ou não. É um ambiente onde não precisa ter vergonha dessas mancadas linguísticas. Eu gosto do fato da New School ter vários estudantes internacionais, porque aí a gente não vira "o gringo".

Uma coisa que eu acho muito engraçada é a relação dos americanos com a cultura. Já ouvi mais de uma vez estudantes nascidos aqui nos EUA mas filhos de pais latinos falarem "eu sou latino". Ou, "eu sou afro-americano", "eu sou coreano", quando às vezes o cara nunca pisou na América Latina ou na África ou na Ásia. Não tô falando que isso é certo nem errado, eu só acho curioso - parece uma exaltação dos antepassados... Hahaha! Não sei se isso é geral ou se é coisa de Nova York.

Numa aula, assistimos o documentário Black Power Mixtape, e um dos entrevistados falava algo parecido... Ele é afro-americano, mas na realidade nunca pisou na África. A África é uma espécie de "passado de orgulho", um passado idealizado (alô Pierre com as aulas de literatura!).

Bom, mas ao mesmo tempo em que os próprios estudantes falam "sou latino", há uma relação estranha em pensar o que é a América. Quando eles falam América, pensam apenas nos Estados Unidos. Numa aula, estávamos analisando mapas e infográficos e tinha um com muito pouca informação. Tinha o continente americano todo pintado de vermelho. Bem em cima dos EUA, escrito "LATINO/A" e bem em cima da América do Sul, "AMERICA".



Um dos estudantes (aliás, "latino") falou que achava estranho AMERICA estar escrito fora dos EUA... Eu, então, falei que achava que esse mapa deveria ter a ver com imigração, querendo dizer algo do tipo "os latinos estão indo para os EUA, e não se esqueçam de que América do Sul também é AMERICA". E, pra minha surpresa, todo mundo ficou meio "ah, é... Bem pensado". Não se para pra pensar que a América é todo um continente gigante! America (sem acento mesmo) são os EUA. Acho que é culpa desse nome "ambíguo" que os EUA tem, colocando o nome do continente no próprio nome.

(História desse mapa: um artista [acho] pediu pra pessoas que fossem cruzar as fronteiras dos países ilegalmente levassem esse mapa consigo e depois devolvessem. Esse mapa da imagem passou pelas fronteiras várias vezes, e o viajante teve que se esconder na lama e o escambau, por isso o mapa voltou todo detonado. Ao vivo é bem mais maneiro!)

Novamente, não estou criticando, só acho curioso! Porque acho que no Brasil talvez aconteça meio que o contrário... "Meus pais são argentinos/japoneses/italianos mas eu nasci no Brasil!".

Por falar em Brasil, já conheci 3 pessoas aqui cujos pais (ou um deles) é Brasileiro e se estabeleceu aqui, teve filhos etc. Uma  dessas famílias veio de Sorocaba, outra de Poços de Caldas e a outra eu não lembro, mas acho que foi da Bahia (?).

Enfim... Alguns pensamentos sobre essa questão de cultura. Coleguinhas CsFs que estão em outras faculdades, como é isso na faculdade de vocês?

Beeijos!

P.S.: A palavra mais difícil de falar, pra mim, é LITERALLY. Sério, impossível falar isso rápido. Ontem fiquei repetindo antes de dormir, mas não sai. Aaahh!